Considerações sobre a Reforma Ortográfica da Língua Portuguesa
Introdução
A nova reforma ortográfica da língua portuguesa restringe-se à língua escrita, não afetando, pois, nenhum aspecto da língua falada. Também não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial. É apenas um passo na direção pretendida para unificação ortográfica desses países. Nossas palavras são fundamentadas no Michaelis, Guia Prático da Nova Ortografia, assinado por Douglas Tufano. Lembramos que elas se tornam oficiais a partir de 2009 e serão implementadas nas escolas públicas de 2010 a 2012 (em todas as séries).
Durante um período de transição, que terminará em dezembro de 2012, serão aceitas oscilações entre a norma antiga em exames escolares, provas de vestibular, concursos públicos e nos meios escritos em geral. Os livros didáticos, segundo o Ministério da Educação, deverão, desde 2009, obedecer ao novo Acordo.
Em Portugal, houve abolição das consoantes mudas C e P em palavras como afecto (afeto), actriz (atriz), óptimo (ótimo), mas, no Brasil, não houve alteração, porque não possuímos palavras que tenham essa formação. Primeiro, resolveram voltar com as três letras K, W e Y que, oficialmente, tinham saído do alfabeto e, na prática, nunca aconteceu. Elas são usadas na escrita de símbolos de unidades de medida como: Km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt) e, também, na escrita de palavras e nomes estrangeiros e seus derivados como: show, playboy, playground, windsurf, William, kaiser, etc.
Uso do trema
Agora, mexeram como o trema que passa a não ser usado mais. Usava-se o trema nos grupos gue, gui, que, qui, para indicar que o u era pronunciado e continuará pronunciado, mesmo sem o uso do trema. Então, a partir do ano que vem, escreveremos, sem trema: aguentar, arguir, bilíngue, cinquenta, delinquente, eloquente, ensanguentado, equestre, frequente, lingueta, linguiça. É bom observar que o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas: Muller, mülleriano.
Isso implica na mudança até dos programas de computadores, porque, enquanto digito essa matéria, meu computador coloca trema, automaticamente, e ele não existe mais. Assim, muita gente terá dificuldade para se adaptar à reforma ortográfica.
Acentuação
Segundo a Norma Reforma Ortográfica:
1) Ela tira o acento nos ditongos abertos éi e oi das palavras paroxítonas (que têm acento tônico na penúltima sílaba). Então, escreveremos agora: alcateia, apoia e apoio (verbo apoiar), asteroide, boia, epopeia, estreia, estreio (verbo estreiar), geleia, heroico, jiboia, etc. Atenção: Essa regra é válida apenas para palavras paroxítonas e, assim, continuaremos acentuando as oxítonas terminadas em éis, éu, éus, ói, óis: papéis, herói, heróis, troféu, troféus.
2) Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no I e no U tônicos, quando vierem seguidos de ditongo. Antes, escrevíamos baiúca, bocaiúva, feiúra e, agora, escreveremos: baiuca, bocaiuva, feiura. Atenção, se a palavra for oxítona e o I ou o U estiverem em posição final, ou seguidos de S, o acento permanece como em: tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
3) Não será mais usado acento nas palavras terminadas em êem e ôo(s). Até agora, escrevíamos: abençôo, crêem, dêem, lêem, vêem, enjôo, magôo, perdôo e, com a Reforma, escreveremos: abençoo, creem, deem, leem, veem, enjoo, magoo, perdoo, povoo, voo, voos, zoo.
O problema, agora, será os computadores. Sim, você digitará “creem”, sem acento e, enquanto não mudarem os programas, o computador ainda continuará a colocar, automaticamente, o acento e, assim, quem revisa textos passará aperto.
4) Não se usa mais o acento que diferenciava os pares: pára (verbo) e para (preposição), péla(verbo) e pela (preposição), pêlos (animais) e pelo (preposição) e, ainda, pólo(s) e polo(s), pêra (fruta) e pêra (peça elétrica). Só o contexto informará qual é o sentido da palavra: Exemplos: Ele para o carro para abastecer. Ele não foi ao polo Norte, porque gosta de jogar polo no verão. Esse gato tem pelos brancos. Ele fala pelos contovelos. Gosta de comer peras.
Atenção, minha gente, permanece o acento diferencial em pôde/pode. Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do Indicativo), na 3a. pessoa do singular e Pode é a forma do Presente do Indicativo, na 3a. pessoa do singular. Se tirassem o acento diferencial, seria uma confusão tremenda. Também permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo e por é preposição. Assim, continuaremos escrevendo: Vou pôr o livro na estante que foi feita por mim, certo?
Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verbos ter e vir, bem como de seus derivados (manter, deter, reter, etc): Exemplos: Ele tem dois cachorros./Eles têm dois cães – Ele vem de Divinópolis./Eles vêm de Divinópolis. – Ele mantém a palavra./Eles mantêm a palavra. Segundo as novas regras, agora, é facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa frase mais clara: “Qual é a forma da fôrma do bolo, Maria?”
5) Não se usa mais o acento agudo no u tônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do Indicativo dos verbos arguir e redarguir.
6) É bom lembrar que há uma variação na pronúncia dos verbos terminados em guar, quar e quir como: aguar, averiguar, desaguar, apaziguar, delinquir, etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do Indicativo, do presente do Subjuntivo e, também, do Imperativo:
a)Se forem pronunciados com a ou i tônicos, essas formas devem ser acentuadas:
Verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; exángue,exánguem.
Verbo delinqüir: delínquo, delínques, delínque, delíquem; delínqua, delínquas, delínquam.
b)Agora, se forem pronunciadas com u tônico, deixam de ser acentuadas e, como exemplo, repetimos: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxágue, enxágues, enxáguem.
c)Delinquo, delinques, delinque, delinquem; delingua, delinguas, delinquam. Observação: No Brasil, a pronúncia mais usual é a primeira, ou seja, aquela com a e i tônicos, certo?
Uso do hífen:
Agora, quanto ao uso do hífen, é bom observar que se trata de matéria ainda controvertida. Vamos falar de algumas palavras formadas por prefixos ou elementos que podem funcionar como prefixos como: aero, agro, além, ante, anti, aquém, arqui, auto, circum, co, contra, eletro, entre, ex, extra, geo, hidro, hiper, infra, inter, intra, macro, micro, mini, multi, neo, pan, pluri, proto, pós, pré, pró, pseudo, retro, semi, sobre, sub, super, supra, tele, ultra, vice, etc.
1) Com os prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por H: anti-higiênico, co-herdeiro, macro-história, mini-hotel, proto-história, sobre-humano, super-homem, ultra-humano. Exceção: SUBUMANO que perdeu o h.
2) Não se usa hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da outra palavra inicial: aeroespacial, agroindustrial, anteontem, antiaéreo, antieducativo, autoescola, autoestrada, coautor, coedição, extraescolar, plurianual, semiaberto, semianalfabeto, etc. Exceção: o prefixo CO aglutina-se, em geral, com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar, cooperar, cooptar, etc.
3) Não será mais usado o hífen, quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de R ou S. Exemplos: anteprojeto, antipedagógico, autopeça, coprodução, geopolítica, microcomputador, semideus, ultramoderno, etc. Atenção, pois com o prefixo VICE, usa-se, sempre, o hífen: vice-rei, vice-presidente, etc.
4) Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e a outra palavra começa com R ou S. Nesse caso, duplicam-se essas letras: antirrábico, antirreligioso, contrarregra, contrassenso, minissaia, ultrassom, semirreta, ultrarresistente, etc.
5) Quando o prefixo termina por vogal, usa-e o hífen se o segundo elemento (palavra) começar com a mesma vogal: anti-ibérico, auto-observação, micro-ônibus, semi-internato, contra-atacar, etc
6) Quando o prefixo termina em consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar com a mesma consoante: hiper-requintado, inter-racial, super-romântico. Atenção: Nos demais casos, não se usa hífen: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção, etc.
7) Com o prefixo SUB, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por R como sub-região, sub-raça, etc.
8) Com os prefixos CIRCUM e PAN, usa-se o hífem diante de palavra iniciada por M, N e VOGAL: circum-navegação, pan-americano, etc.
9) Quando o prefixo termina em consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar com vogal: hiperacidez, hiperativo, interescolar, interestadual, superamigo, superexigente, etc.
10) Com os prefixos EX, SEM, ALÉM, AQUÉM, RECÉM, PÓS, PRÉ, PRÓ, usa-se, sempre, o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduado, pré-história, pró-europeu, sem-terra.
11) Se os sufixos são de origem tupi-guarani: AÇU, GUAÇU, MIRIM, usa-se o hífen: amoré-guaçu, capim-açu.
12) Deve-se, também, usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que, ocasionalmente, se combinam como: ponte Rio-Niterói, eixo Belo Horizonte-Rio de Janeiro, eixo Rio-São Paulo.
13) Não se usa o hífen, contudo, em palavras que perderam a noção de composição como: girassol, madressilva, paraquedas, pontapé, etc.
Ao escrever um texto, se for necessário partir uma palavra (divisão silábica) e se coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte, certo? Uma coisa, fica bem claro, não devemos misturar as novas regras ortográficas com as antigas. Vamos procurar observar a respeito e, se Deus quiser, com o tempo, absorveremos as novas mudanças. Aliás, isso se dará com muita leitura. Afinal, ler e ler e ler são as três regras para se ter cultura, concordam?