A escola como limitadora do ser - Escola e fragmentação social
Não podemos esquecer que a escola é um subsistema de um sistema maior – a sociedade em que vivemos. A educação que fazemos se integra no tipo de sociedade em que vivemos.
A escola acaba por manter uma estreita relação de dependência com a sociedade da qual ela faz parte. A forma como a sociedade está organizada em seu conjunto marca profundamente a organização da escola.
Uma sociedade injusta e desigual, moralista e repressiva, que desenvolve o individualismo e a competitividade, não se interessa verdadeiramente por uma escola preocupada com o desenvolvimento do “Ser”.
A escola, por sua vez, preocupada em desenvolver conteúdos padronizados, fixos e abstratos, priorizando a informação e a instrução, não desenvolve uma consciência capaz de dar uma resposta vital aos problemas sociais. Muito se tem pensado sobre a finalidade da escola e sobre seu papel na sociedade.
A finalidade da escola, tal como ela existe hoje, é formar essa minoria privilegiada que, mais tarde, vai pensar, dirigir, planejar e dar ordens aos outros. Já o destino da maioria marginalizada pela escola será o de cumprir as ordens e os planos feitos pelos donos do poder e do saber. Cláudius Ceccon
Vários autores têm nos alertado sobre o papel desenvolvido pela escola em nossa sociedade. Sintetizando estas idéias e descobertas, podemos afirmar que a escola, apesar de todos os esforços, continua discriminadora e repressiva. Ela tem sido utilizada como um meio de perpetuar os valores, conceitos e toda uma ideologia da classe dominante.
Priorizando o trabalho intelectual e desqualificando o trabalho manual, ela desempenha o papel de reproduzir a sociedade de classes e reforça o modo de produção capitalista. Os conceitos e valores transmitidos através de conteúdos, programas e currículos servem aos interesses de uma sociedade individualista e consumista, controlada por grupos que detêm o poder econômico.
Professores e alunos, vítimas de um sistema que atrofia e deforma suas mentes, vontade e iniciativa, acabam fazendo o jogo da classe dominante.
Imersos numa consciência ingênua, sem uma perspectiva historicizadora, muitos professores fazem exatamente o oposto do que pensam fazer quando simplesmente ensinam. O certo é que o ensino que fazem ajuda a criar uma postura de passividade, imobilidade e silêncio.
Há, no entanto, um outro aspecto que está além e de permeio a esses valores: a castração da iniciativa. Sem dúvida, mais grave que os valores veiculados ou que os conceitos equivocados, estão a mutilação da iniciativa e o treinamento sistemático da passividade.
É óbvio que, se durante os anos em que se formam os traços fundamentais da personalidade treinamos principalmente uma atitude de passividade, nosso principal traço deixado pela “educação” será o da passividade. Rodolfo Caniato
O traço mais característico impresso pela escola é uma passividade diante do conhecimento, dos fatos e da vida.
Como transformar a nós mesmos, como criar um mundo novo à nossa volta, se educamos para o conformismo? Imersos numa passividade castradora, nós nos mantemos indiferentes e esperançosos de que outros possam tomar atitudes e decidir nossos destinos.